Me lembro daquele tempo que vivi lá na campanha
Que ao invés de comer manteiga se comia pão com banha
Quando se carneava um porco parecia uma festança
Por que a gente dividia tudo com a vizinhança
Porém aqui na cidade credo em cruz até da medo
Pois quem tem dinheiro come quem não tem chupa no dedo

Fio de bigode eu digo isso e sustento
No tempo do meu avô era um baita documento

No lugar que eu vivia, digo com sinceridade
Lá é muito diferente dos costumes da cidade
Aqui o ensinamento até me desacorçoa
Por que aqui qualquer pirralho chama os velhos de coroa
Lá eu levantava cedo com o cantar dos passarinhos
E aqui eu me acordo com os gritos dos vizinhos

E o meu pai contou que meu avô um certo dia
Foi comprar uma boiada nos pagos de vacaria
Como não tinha recibo vejam só como é que pode
O velho dono da tropa lhe deu um fio de bigode
Porém aqui na cidade está tudo desse jeito
Nem um bigode inteiro está impondo respeito

Composição: Flávio Mattes