Patriota Comunista

Tá ficando tarde
Acho que era nisso que eu pensava
Enquanto tentava dormir
Pra ver se pelo menos dormindo, eu ainda sonhava
E o sono não queria vir
Pra ver se pelo menos dormindo
Eu ainda conseguia respirar
Tô ficando sem ar

Acho que era nisso que eu pensava
Enquanto o meu sonho tentava chegar
Tentando desligar minha cabeça
Mas em alguma tela, esse filme passava
Era um filme de sangue
Ou seriam as notícias?
Era um filme de gangue
Ou seria uma milícia?
Era um filme de época
Uma velha novela

O terror na favela, e o hospital saturado
A criança espancada, era um trans torturado
Eu fiquei transtornado, eram cenas horríveis
Transcendendo níveis jamais tolerados
Já mais tolerados
Agora por seres humanos já mais insensíveis
Já mais insensíveis do que os alemães
Que tratavam os judeus como gado marcados com brasa
E no Brasa, 80 anos depois, o enredo é igual

Medo e maniqueísmo (e o ódio é normal)
Preconceito é aceito (e a morte é banal)
Ou você é excomungado, ou você é como os bois
Isso aqui sempre foi um curral

Uma bíblia, uma bunda, uma bola
Uma pinga e uma sobra de feijão com arroz
O que mais poderíamos querer?
Uma arma pra cada
Uma bela piada, zombando da cara de quem vai morrer

Será que a minha amiga de Belo Horizonte
Pulou da janela do quinto
Sentindo essa angústia que eu sinto?
Por já não ver nada de belo
Ao buscar um horizonte e enxergar vários monstros
Brindando com cálices de vinho tinto
E a carne mais cara no prato
A carne barata é a dos pretos
Compartilham prantos e prints das fotos dos corpos
Mas nos comentários, o texto vem pronto

Se morreu no morro e é preto e fodido
Deve ser bandido, então tudo bem
Se a Katlen não fosse mulher e gestante
Iam dizer que ela era traficante também
Se a família chora, o poder ignora, e o diabo até ri
Agora o meu sono tá vindo e eu também tô sorrindo
Brincando com o menino Henry

Acabou Chorare
No sonho, eu componho com Moraes Moreira
Mas nem lá de cima ele esquece a vergonha
Lá vem o Brasil descendo a ladeira
E os Novos Baianos que chegam no céu
Foram executados
Por terem tentado furtar um pedaço de carne
Num supermercado
Então os seguranças pegaram em flagrante
Primeiro pediram dinheiro
Mas logo mandaram chamar os traficantes do bairro
E mandaram entregar os ladrões de galinha pro coveiro

Chegaram no céu
E aí, Gabriel, você por aqui?
Fiquei preocupado, será que eu morri?
Mas é só um sonho
Vou ver se aproveito pra dar um abraço em meu pai

Difícil encontrar, chega gente demais
Numa fila que nunca termina
Vi uns anjos ali reclamando
Porque tinha país recusando vacina
Disfarcei minha nacionalidade
Eu acho que eu sou patriota
Mas no céu, quem puser suas bandeiras acima de tudo
Deus dá cascudo e chama de idiota

Eu acho que eu sou humanista
Mas a humanidade tá punk
Eu peço um papel e uma caneta
Começo uma letra e encontro Aldir Blanc
Me encanto com um conto do Rubem Fonseca
E canto uma do Roupa Nova
Enquanto num canto, Jesus me observa
Com cara de quem desaprova

Eu acho que eu sou comunista
Pois sempre chutei de canhota
Encontrei o Maradona gritando: Argentina!
Eu acho que ele é patriota

Sou patriota? Sou comunista?
Ou só mais um morto vivendo no inferno?
Só mais um sonho morrendo no céu
Mais uma nota no bolso do terno

Sou patriota? Sou comunista?
Sou um cacique atacado na oca
Sou uma criança pedindo comida
Sou uma foca aplaudindo uma orca

Sou um cientista pedindo uma esmola
Sou um quilombola virando piada
Sou uma vida que nem vale um dólar
Sou uma preguiça assistindo à queimada

Sou só mais um dos milhões de indivíduos
Tão divididos na morte e na vida
Somos devotos dos santos bandidos
Briga de votos, parece torcida

Gritos de mito e de genocida
Almoço grátis com merda no prato
Toda verdade será distorcida
Todo poder pro capitão do mato

Quando eu morrer
Não quero choro, nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Tá ficando estranho esse sonho
Mais um amigo chegando risonho
Eduardo Galvão, seu olhar ainda brilha
Mandando um recado pra filha
Querida, a vida é pra ser bem vivida
Não é uma corrida pro pódio
Amigo, ela sabe, eu também
E por isso também sobreponho o amor ao ódio
E sempre que posso, ainda sonho
E tento inspirar tolerância
Se eu pude aprender com os meus erros
Não quero enterrar a esperança
Em que em tempos de tantos enterros
O homem ainda enxergue a aberração da arrogância
E agarre esse chance de achar
Uma mudança de rumo, atitude e conduta
Mas fica difícil encontrarmos caminhos mais justos
Se todos nós somos tão filhos da puta

Fazendo de tudo pra levar vantagem em tudo
Achando normal o absurdo
Pagando de louco, de cego, de surdo
Apenas quando nos convém
Estamos doentes
O vereador e a mãe do menino
O governador e o ministro assassino
Que mata inocente no morro ou dispensa a vacina
De onde eles vêm?

Virou pesadelo esse sonho
Olhando pra gente, eu até me envergonho
E eu acho que sou um cidadão de bem
Por isso me exponho e me cobro também
Se eu pude aprender pela voz dos poetas
Não posso aceitar a censura
Se os meus professores abriram minha mente
A cura tá na educação e na cultura

Já tá uma tortura esse sonho
E falando em cultura, olha quem aparece
Trazendo ironia e coragem
Me arranca um sorriso e alivia o estresse
No sonho, ele vem com milhares de vítimas
500 mil mortos ou mais
Acordo assustado e o sorriso do Paulo Gustavo
Na dor se desfaz

Só sinto o meu corpo gelado
E do lado da cama, uma frase dizendo: Aqui jaz
Esfrego os meus olhos e vejo
Que sou um escravo amarrado num tronco
E quando o chicote arrebenta minhas costas
Me sinto impotente, mas olho pra trás
A lágrima lava o meu rosto
E eu, já consciente, levanto pra sonhar de novo
E quebro as correntes quando reconheço
O meu rosto na cara do meu capataz

Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela

Patriota comunista

Se está haciendo tarde
Creo que eso es lo que pensé
Mientras tratas de dormir
Para ver si al menos dormía, todavía soñaba
Y dormir no quería venir
Para ver si al menos duerme
Todavía podía respirar
Me estoy quedando sin aire

Creo que eso es lo que pensé
Mientras mi sueño intentaba llegar
Intentando apagar mi cabeza
Pero en alguna pantalla, esta película estaba pasando
Era una película de sangre
¿O serían las noticias?
Era una película de pandillas
¿O sería una milicia?
Era una película de época
Una vieja telenovela

El terror en la favela y el hospital saturado
El niño golpeado era un trans torturado
Estaba molesto, eran escenas horribles
Transcender niveles nunca tolerados
Ya es más tolerado
Ahora, para humanos ya más insensibles
Ya es más insensible que los alemanes
¿Quién trataba a los judíos como ganado adoquinado
Y en Brasa, 80 años después, la trama es la misma

Miedo y maniqueísmo (y el odio es normal)
Se aceptan prejuicios (y la muerte es banal)
O estás excomulgado o eres como bueyes
Siempre ha sido un corral aquí

Una biblia, un culo, una pelota
Un goteo y un sobras de frijoles con arroz
¿Qué más podríamos querer?
Un arma para cada uno
Una buena broma, burlándose de la cara de los que van a morir

¿Mi amigo de Belo Horizonte
Saltó por la quinta ventana
¿Sientes esta angustia que siento?
Porque no veo nada hermoso
Buscando un horizonte y viendo varios monstruos
Tostado con copas de vino tinto
Y la carne más cara del plato
La carne barata es la negra
Comparten imágenes e impresiones de fotos corporales
Pero en los comentarios, el texto está listo

Si mueres en la colina y es negro y maldito
Debes ser un bandido, así que está bien
Si Katlen no fuera mujer y embarazada
Iban a decir que también era traficante de drogas
Si la familia llora, el poder ignora y el diablo se ríe
Ahora se me acerca el sueño y también estoy sonriendo
Jugando con el chico Henry

Se acabó el llanto
En el sueño, compongo con Moraes Moreira
Pero ni siquiera arriba se olvida de su vergüenza
Aquí viene Brasil por la ladera
Y los nuevos Baianos que llegan al cielo
Fueron ejecutados
Por intentar robar un trozo de carne
En un supermercado
Así que los guardias de seguridad lo recogieron en la mano roja
Primero pidieron dinero
Pero pronto enviaron a buscar a los traficantes de drogas del vecindario
Y enviaron a los ladrones de gallinas al underkeeper

Llegaron al cielo
Gabriel, ¿estás por aquí?
Estaba preocupado, ¿he muerto?
Pero es solo un sueño
Veré si aprovecho la oportunidad para dar un abrazo a mi padre

Difícil de encontrar, suficiente gente
En una línea que nunca termina
Vi algunos ángeles allí quejándose
Porque había un país que rechazaba la vacuna
Disfrazé mi nacionalidad
Creo que soy un patriota
Pero en el cielo, que ponen sus banderas por encima de todo
Dios da una muchedumbre y la llama idiota

Creo que soy humanista
Pero la humanidad es punk
Pido un papel y un bolígrafo
Empiezo una letra y encuentro a Aldir Blanc
Estoy encantado con un cuento corto de Rubem Fonseca
Y canto uno de los New Clothes
En un rincón, Jesús me observa
Con la cara de los que desaprueban

Creo que soy comunista
Porque siempre pateé zurdos
Encontré a Maradona gritando: ¡Argentina!
Creo que es un patriota

¿Soy patriota? ¿Soy comunista?
¿O simplemente otro muerto viviendo en el infierno?
Otro sueño muriendo en el cielo
Una nota más en el bolsillo del traje

¿Soy patriota? ¿Soy comunista?
Soy un cacique atacado en el hueco
Soy un niño pidiendo comida
Soy un foco aplaudiendo a una orca

Soy un científico que pide limosna
Soy quilombola haciendo broma
Soy una vida que no vale ni un dólar
Soy una pereza viendo la quemadura

Soy solo otro de los millones de personas
Dividido en muerte y vida
Somos devotos a los santos bandidos
Pelea electoral, suena a alegría

Gritos de mito y genocidio
Almuerzo gratis con basura en plato
Toda la verdad se distorsionará
Todo el poder para el capitán del

Cuando muera
No quiero llorar ni navegar
Quiero una cinta amarilla
Grabado con su nombre

Se está volviendo raro ese sueño
Otro amigo se acerca riendo
Eduardo Galvão, su mirada sigue brillando
Enviar un mensaje a su hija
Cariño, se supone que la vida está bien vivida
No es una carrera de podio
Amiga, lo sabe, yo también
Y es por eso que también me superpongo el amor al odio
Y siempre que puedo, sigo soñando
Y trato de inspirar tolerancia
Si pudiera aprender de mis errores
No quiero enterrar la esperanza
¿En qué tiempos de tantos entierros
El hombre sigue viendo al monstruo de la arrogancia
Y aprovecha esa oportunidad para encontrar
Cambio de dirección, actitud y conducta
Pero es difícil para nosotros encontrar caminos más justos
Si todos somos tan bastardos

Hacer todo lo posible para aprovechar todo
Encontrar lo absurdo normal
Pagar locos, ciegos, sordos
Justo cuando nos conviene
Estamos enfermos
El concejal y la madre del niño
El gobernador y el ministro asesino
Quién mata a inocentes en la colina o dispensa la vacuna
¿De dónde vienen?

Ese sueño se ha convertido en una pesadilla
Mirándonos, incluso me da vergüenza
Y creo que soy un buen ciudadano
Es por eso que me expongo y me cobro a mí mismo también
Si pudiera aprender por la voz de los poetas
No puedo aceptar la censura
Si mis profesores me abrieron la mente
La cura está en la educación y la cultura

Ya hay una tortura en este sueño
Y hablando de cultura, mira quién aparece
Trae ironía y coraje
Me quita una sonrisa y alivia el estrés
En el sueño, viene con miles de víctimas
500 mil muertos o más
Trato asustado y sonrisa de Paulo Gustavo
En el dolor se desmonta

Siento mi cuerpo frío
Y al costado de la cama, una frase que dice: Aquí yace
Me froto los ojos y veo
Que soy un esclavo atado a un baúl
Y cuando el látigo me golpea la espalda
Me siento indefenso, pero miro hacia atrás
La lágrima me lava la cara
Y yo, ya consciente, me pongo de pie para soñar de nuevo
Y rompo las cadenas cuando reconozco
Mi cara en la cara de mi capataz

Cuando muera
No quiero llorar ni navegar
Quiero una cinta amarilla
Grabado con su nombre

Composição: Gabriel o Pensador / Marcelo Italo Silva Freitas