Velho Casarão

Velho casarão já quase tapera
Da grande figueira sombreando o telhado
Se ela falasse contava a história
De quem te plantou há um século passado
Mas como eu sou neto de quem lhe plantou
Eu conto a história casarão amado
Nas suas paredes tem furos de bala
Das revoluções que a história fala
Serviu de trincheira a varanda e a sala
Pra seu construtor meu avô afamado

Ali meu avô doze filhos criou
Sou filho de um que empunhou a bandeira
Meu avô morreu e ficou o meu pai
Mandando na estância pela vida inteira
Meus tios foram embora pra outra querência
Ficou o casarão que foi sempre trincheira
Na frente o meu pai seu chimarrão tomava
Comigo no colo ele me embalava
Com a minha mãe os dois cantarolavam
Para mim dormir na sombra da figueira

Lá por trinta e dois houve outra revolta
As forças chegaram e foram invadindo
Meu pai minha mãe abraçados a fuzis
Velho casarão outra vez resistindo
Lá do meu berço eu saí gatinhando
Pra ver e ouvir a bala zunindo
As forças recuaram acabou a desgraça
A figueira grande abafou a fumaça
Meu pai demonstrou ter ficado com a raça
Do meu velho avô que brigava sorrindo

Casarão querido da grande figueira
Ali fiquei moço faceiro e pachola
Meu pai me ensinou a ser bom cantador
E o primeiro acorde de uma viola
Depois veio a morte e levou os meus pais
Saí pelo mundo minha fama rola
Quando eu ficar velho, velho casarão
Volto pra contigo tombar no chão
Da grande figueira quero o meu caixão
E pra minha alma o céu por esmola

Casa antigua

Antigua casona casi tapera
De la gran higuera que da sombra al techo
Si pudiera hablar, contaría la historia
De quien te planto hace un siglo
Pero como soy nieto del que la plantó
Cuento la historia de la mansión amada
Hay agujeros de bala en tus paredes
De las revoluciones que habla la historia
Sirvió de trinchera el balcón y la habitación
Para tu constructor mi famoso abuelo

Allí crió mi abuelo doce hijos
Soy el hijo de uno que sostuvo la bandera
Mi abuelo murió y mi padre se quedó
Dirigir la estancia de por vida
Mis tíos se fueron a otra delicia
Quedó la mansión que siempre fue trinchera
Frente a mi padre, su compañero bebía
Conmigo en su regazo me meció
Con mi madre los dos tarareaban
Para que yo duerma a la sombra de la higuera

Hacia el treinta y dos hubo otro levantamiento
Las fuerzas llegaron y estaban invadiendo
Mi padre mi madre abrazando rifles
Vieja mansión resistiendo de nuevo
De mi cuna me arrastré
Para ver y escuchar la bala zumbando
Las fuerzas se retiraron la fatalidad terminó
La gran higuera sofocó el humo
Mi padre demostró haberse quedado con la raza
De mi viejo abuelo que peleaba sonriendo

Amada mansión de la gran higuera
Ahí me hice chico faceiro y pachola
Mi padre me enseñó a ser un buen cantante
Y el primer acorde de una viola
Luego vino la muerte y se llevó a mis padres
salí al mundo mi fama rueda
Cuando sea viejo, vieja mansión
vuelvo contigo a caer al suelo
De la higuera grande quiero mi ataúd
Y por mi alma el cielo por la limosna

Composição: Teixeirinha