Caminho Sem Volta
Paulo Mattos
Não me deixo ver chorando por baldas do coração
Mas um dia me vi em prantos ao voltar pro meu rincão
Naquela figueira antiga que cuidei com devoção
Dependurado num galho, meu pai a metros chão
Ali mesmo foi o leito debaixo daquele céu
Meu velho foi enterrado com chinelos e o sovéu
Aquela mesma figueira que antes foi carrossel
Agora era campo-santo com toques de mausoléu
Nessa árvore da vida uma imagem vem e vai
Era vida ou era morte, ninguém saberá jamais
Em sua sombra me ajoelhava, rezava para meu pai
Por capricho do destino hoje não existe mais
Quando chegou um servente de uma multinacional
Com a retroescavadeira foi limpando o matagal
Não respeitou a figueira nem a cruz do funeral
Destruiu nosso jazigo, por ganas de capital
(Todo caminho é sem volta, o meu não foi diferente
Mas temos que olhar pra frente, felicidade é direito
Contei toda minha história e te digo meu amigo
Trago meu velho comigo no lado esquerdo do peito)
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