Milagre Na Terra Arrasada
Benedito Dias
Terra arrasada, campos sem gado
Figueira seca, sem olivais
Águas amargas, sem ovelhas nos currais
Vinhas sem uvas, lagar sem trigo
Contamidos os mananciais
Fome demais, campos sem gado
Mães canibais dos próprios filhos
E uma viúva pobre endividada, sem nada
(Ela foi ao profeta profeta e disse)
Meu marido morreu, era teu seguidor
Deixou dividas e amanhã de manhã o credor
Vai levar os meus filhos embora daqui e me deixar sem nada
O que tens em casa, mulher?
Nada, nada, nada, nada, nada!
Aliás, uma botija com quase nada de azeite
Mais nada, nada, nada, nada, nada!
Queres ver milagre, mulher, do nada, nada, nada quase nada
Pega vasilhas de vizinhos emprestadas
Fecha a porta e deixa o azeite derramar
Derrama que dá
Enche, pode derramar
Quanto mais derrama, enche
Quanto mais enche, derrama
Derrama que dá
Uma, duas, três, paga divida de uma vez
E viva do resto, é sobra
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