Carta

Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelhecí: olha em relevo
estes sinais em mim, não das carícias
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
"Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.

Carta

Ha pasado mucho tiempo, sí, no te he escrito
Todas las noticias se hicieron viejas
Yo mismo envejecido: se ve en relieve
estas señales en mí, no de caricias
(tan ligero) que hiciste en mi cara
Son golpes, son espinas, son recuerdos
de vida a tu hijo, que el sol
pierde la sabiduría de los niños

La señorita que me echas de menos no es tanto
a la hora de acostarse, cuando dijiste
Dios te bendiga”, y la noche se abrió en un sueño

Es cuando, cuando me despierto, veo en una esquina
la noche acumulada de mis días
y siento que estoy vivo, y no sueño

Composição: Carlos Drummond de Andrade