175 Nada Especial

E aí, Pensador!
Fala, tudo bem?
Tá esperando que ônibus aí? (175!)
Ih, corre que tá saindo um ali agora
Falou então, valeu!
Valeu!

Mais um dia, mais um ônibus que eu peguei no Rio
Um ônibus tranquilo, estava vazio
A cidade engarrafada como não podia deixar de ser
Viagem demorada, o que fazer?
Sem nenhuma mulher por perto pra bater um papo esperto
Resolvi escrever um rap a mais, mas não estou bem certo
Sobre o quê vou rimar?
Diz aí, trocador!
(Ah, sei lá, porra!)
Então eu vou no instinto, pego um papel e vamo ver o quê que dá
Foi nesse instante em que eu olhei pra janela
E que susto eu levei, era ela
A inflação, estampada na vitrine
Atingiu meu coração e deu vontade de partir pro crime
Porque o que eu quero comprar já não dá mais
A não ser que eu faça como fez o Ferrabrás (Quem?)
Então eu tento esquecer, continuar a rimar
Mas o que eu vejo do outro lado é duro de acreditar
Mas é real e a realidade dói demais
São dois mendigos se matando pelos restos mortais
De um cachorro qualquer que foi atropelado
E vai virar rango e se der, talvez seja assado
(Hum, esses nojentos gostam disso?)
Não, arrombado!
Aquilo é um ser humano que chamaram de descamisado
Desesperado, um brasileiro como eu
Que deve sempre perguntar
(Será que existe mesmo Deus?)
Não é o Pensador que vai tentar responder
Eu continuo rimando, tentando esquecer

Que esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central
Mas esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central

E de repente, o ônibus começou a encher
Entrou mais gente, houve um tumulto
Alguém gritou e eu olhei pra ver
Quê que é isso? Quê que tá pegando? Quê que tá havendo?
(É um assalto, malandro! Será que você ainda não tá percebendo?)
O desespero do trabalhador começou
E eu também tentava esconder meu dinheiro quando alguém falou
(Libera esse aí que é o Pensador, mané!)
Mas eles eram meus fãs, então levaram meu boné
(Autografado né, Pensador, se liga!)
(Calma!)
Alguns acharam que eu era cúmplice, quase deu briga
Mas a viagem prosseguiu e os ladrões desceram
E aí a raiva que subiu na cabeça dos passageiros
E o mais injuriado era um bigodudo
Que tinha ganhado o salário (e eles levaram tudo)
Entraram dois PM's pela porta da frente, estufando o peito e olhando pra gente, impondo respeito
Mas os ladrões já tavam longe, num tinha mais jeito
Pra priorar levaram o bigodudo como suspeito, ele era preto!
(O negro segura a cabeça com a mão e chora)
Coisas desse tipo é difícil esquecer
Mas eu vou continuar porque eu já disse a você

Que esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central
Mas esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central

Agora estamos passando pela praia de Copacabana
Travestis e prostitutas se acabando por grana
E os gringos vão achando aquilo tudo bacana
(O Brasil é um paraíso! As mulheres são boas de cama)
Ô, gringo, não força!
Deixa de ser imbecil, você que vem lá de fora quer entender do Brasil, han
(O Brasil é um paraíso, é mole? E o inferno é onde?)
(Pera aí, Pensador!)
E por falar em paraíso, olha que loucura
Subiu no coletivo uma estranhíssima figura
Com uma bíblia na mão e uma cara de débil mental
Pregando a enganação da Igreja Universal
(Ou será que era alguma outra igreja dessas?
Ah, num faz mal! Igreja de enganar otário é tudo igual)
E o coitado foi soltando aquele papo de crente
E eu rezando, Deus, me dê paciência!
Mas o pentelho desceu pra alegria da gente
E na saída do ônibus, sofreu um acidente
Se distraiu e foi atropelado por um caminhão
Morreu esmagado com a bíblia na mão
(É, morreu? Melhor do que viver nessa ilusão, num queria Deus? Foi pro céu então)
(Num sei não)
Enquanto todos se benziam com pena do crente
Eu fui rimando, bola pra frente

Porque esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central
Mas esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central

E eu percebi que o trocador, ficou fazendo careta
'Prum coroa que passou, por debaixo da roleta
Era um senhor de óculos, barba branca
Ei, pera aí!
(Ei professor, o quê que o senhor tá fazendo aqui?!)
Quê que houve? Foi assaltado? Perdeu o dinheiro?
(Hum, sabe, sabe-o-quê-que-é? Gastei o salário inteiro!)
Uhum, mudei de assunto
Ele já tava encabulado
No meio do mês o salário dele já tinha acabado
Era o meu ex-professor da escola (Coitado!)
Tá fudido e mal pago, daqui a pouco tá pedindo esmola
Ele é um mestre, um baú de sabedoria
Esse num é o valor que um professor merecia
Profissional de primeira importância pro nosso futuro
Ninguém mais quer ser professor pra num viver duro
E ele desceu em outra escola pra dar mais aula
(É que eu trabalho nos três turnos, chego em casa e ainda corrijo prova)
Tchau professor (Tchau Pensador!)
Desceu mais um trabalhador que tá numa de horror

Mas esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central
Mas esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central

E nós agora estamos passando pelo bairro de São Conrado
E como o tempo tá fechando, eu tô ficando preocupado
Ih! Choveu! Pronto, tudo alagado
Uns vão nadando, outros morrendo afogados
E enquanto na favela tem barraco caindo
Não é que passa o prefeito num iate sorrindo?
E se o nosso ex-presidente estivesse aqui
Ele estaria certamente num belíssimo jet-ski
Mas como nós não temos embarcação pra todo mundo
Essa triste situação tá parecendo o fim do mundo
Pra quem tá de carro, pra quem tá de ônibus
Nessa Rio-Babilônia, no Brasil do abandono
E enquanto os governantes vão boiando sorridentes
Vamo remando, bola pra frente

Porque esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central
Mas esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 175 que eu peguei na central

E o pior de tudo-tudo é que nessa grande viagem
Nada-nada disso do que aconteceu foi novidade
E as autoridades estão defecando
Pro que acontece ao cidadão brasileiro no seu cotidiano
Porque pra eles isso não é nada especial
No dos outros é refresco, num faz mal
E fecham os olhos, porque até cego já viu
O revoltante retrato da vida urbana no Brasil
E eu não me refiro ao 175, ou qualquer linha da central
Eu tô falando do dia a dia, a qualquer hora, em qualquer local
Porque esse rap não é sobre nada especial

175 Nada especial

¡Oye, pensador!
Habla, ¿estás bien?
¿Qué autobús estás esperando allí? (175!)
Oye, date prisa que ya sale uno
Así lo dijo, ¡gracias!
¡Cuesta!

Otro día, otro autobús que tomé en Río
Un autobús tranquilo, estaba vacío
La ciudad está embotellada como debería estar
Viaje largo, ¿qué hacer?
Sin ninguna mujer cerca para tener una charla inteligente
Decidí escribir un rap extra, pero no estoy seguro
¿Sobre qué voy a rimar?
¡Dilo, cambiador!
(¡Oh, no lo sé, maldita sea!)
Así que sigo por instinto, tomo un papel y veamos qué pasa
Fue en ese momento que miré por la ventana
Y vaya susto que me llevé, era ella
Inflación, impresa en la ventana
Llegó a mi corazón y me hizo querer cometer un crimen
Porque lo que quiero comprar ya no está disponible
A menos que haga como lo hizo Ferrabrás (¿Quién?)
Entonces trato de olvidar, sigue rimando
Pero lo que veo al otro lado es difícil de creer
Pero es real y la realidad duele demasiado
Hay dos mendigos matándose por los restos
De un perro que fue atropellado
Y se convertirá en rango y si lo hace, tal vez se asará
(Um, ¿a estos desagradables les gusta eso?)
¡No, asaltado!
Ese es un ser humano al que llamaron sin camisa
Desesperada, un brasileño como yo
que siempre debes preguntar
(¿Existe realmente un Dios?)
No es el Pensador quien intentará responder
Sigo rimando, tratando de olvidar

Que este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro
Pero este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro

Y de repente, el autobús empezó a llenarse
Entró más gente, hubo una conmoción
Alguien gritó y miré para ver
¿Que que es eso? ¿Qué estás pescando? ¿Qué está sucediendo?
(¡Es un robo, sinvergüenza! ¿Aún no te das cuenta?)
La desesperación del trabajador comenzó
Y también estaba tratando de esconder mi dinero cuando alguien dijo
(¡Libera a este que es el Pensador, hombre!)
Pero eran mis fans así que me quitaron el sombrero
(Autografiado, cierto, Pensador, ¡presta atención!)
(¡Calma!)
Algunos pensaron que era cómplice, casi hubo pelea
Pero el viaje continuó y los ladrones bajaron
Y luego la ira que surgió en la cabeza de los pasajeros
Y el más insultado fue un bigotudo
Quien se había ganado el sueldo (y se llevaron todo)
Dos policías entraron por la puerta principal, hinchando el pecho y mirándonos, imponiendo respeto
Pero los ladrones ya estaban lejos, no había otra manera
Para priorizar, tomaron como sospechoso al bigotudo, ¡era negro!
(El negro se toma la cabeza con la mano y llora)
Cosas así son difíciles de olvidar
Pero seguiré porque ya te lo dije

Que este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro
Pero este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro

Ahora estamos pasando por la playa de Copacabana
Travestis y prostitutas se matan por dinero
Y los extranjeros piensan que todo está bien
(¡Brasil es un paraíso! Las mujeres son buenas en la cama)
¡Oye, extranjero, no lo fuerces!
Deja de ser idiota, tú que vienes del exterior quieres entender Brasil, eh
(Brasil es un paraíso, ¿es blando? ¿Y dónde está el infierno?)
(¡Espera, pensador!)
Y hablando de paraíso, mira que locura
Una figura extraña apareció en el colectivo
Con una biblia en la mano y cara de débil mental
Predicando el engaño de la Iglesia Universal
(¿O fue alguna otra iglesia así?
¡Ah, no duele! La iglesia de los tontos engañadores es la misma)
Y el pobre empezó a dejar de lado esa charla de creyente
Y te pido, Dios, ¡dame paciencia!
Pero el cabello cayó para nuestro deleite
Y al bajar del bus tuvo un accidente
Se distrajo y fue atropellado por un camión
Murió aplastado con la Biblia en la mano
(Sí, ¿murió? Mejor que vivir en esta ilusión, ¿no diría Dios? Entonces fue al cielo)
(No sé)
Mientras todos se santiguaban de compasión por el creyente
Estaba rimando, sigue adelante

Porque este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro
Pero este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro

Y noté que el cambiador hacía una mueca
'Prum corona que pasó, bajo la rueda de la ruleta
Era un hombre con gafas, barba blanca
¡Oye, espera un minuto!
(Hola profesora, ¿qué haces aquí?)
¿Qué pasó? ¿Fue robado? ¿Perdiste el dinero?
(Um, ¿sabes, sabes qué? ¡Gasté todo mi salario!)
Mmmm cambié de tema
ya estaba avergonzado
A mediados de mes ya se le había acabado el sueldo
Era mi ex maestro de escuela (¡Pobre chico!)
Está jodido y mal pagado, pronto pedirá limosna
Él es un maestro, un cofre de sabiduría
Este no es el valor que merecía un maestro
Profesional de primera importancia para nuestro futuro
Ya nadie quiere ser profesor para poder vivir duro
Y se fue a otra escuela a dar más clases
(Trabajo tres turnos, llego a casa y aún así corrijo el examen)
Adiós maestro (¡Adiós pensador!)
Otro trabajador cayó y se encuentra en estado de horror

Pero este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro
Pero este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro

Y ahora estamos pasando por el barrio de São Conrado
Y a medida que se acerca el tiempo, me preocupo
¡Oh! ¡Llovió! Ok, todo se inundó
Algunos nadan, otros se ahogan
Y mientras en la favela hay chozas cayendo
¿No pasa sonriendo el alcalde en un yate?
¿Y si nuestro ex presidente estuviera aquí?
Seguramente estaría en una hermosa moto acuática
Pero como no tenemos un barco para todos
Esta triste situación parece el fin del mundo
Para los que van en coche, para los que van en autobús
En este Rio-Babilônia, en el Brasil del abandono
Y mientras los gobernantes flotan sonriendo
Rememos, avancemos

Porque este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro
Pero este rap no se trata de nada especial
Es el rap 175 que recogí en el centro

Y lo peor de todo es que en este gran viaje
Nada de lo que pasó fue nuevo
Y las autoridades están defecando
¿Qué les sucede a los ciudadanos brasileños en su vida diaria?
Porque para ellos no es nada especial
Para otros es un refresco, para ninguno es perjudicial
Y cierra los ojos, porque hasta los ciegos han visto
El repugnante retrato de la vida urbana en Brasil
Y no me refiero a la 175, ni a ninguna vía central
Me refiero a la vida cotidiana, en cualquier momento y en cualquier lugar
Porque este rap no se trata de nada especial

Composição: Gabriel o Pensador