Caboclo Africano
Jorge Veiga
Eu nasci no Morro do Salgueiro
Num galpão de um terreiro, numa noite de luar
Minha mãezinha no dia que eu nasci
Me levou lá na tendinha e me deu um parati
Depois do samba, com três dias de nascido
Me levaram na igreja, mandaram me batizar
E o Seu vigário disse logo, isto eu não faço
Vá primeiro na macumba pra Xangô lhe abençoar
O macumbeiro começou a macumbar
Deu na pedra, deu na faca, néris do santo chegar
Daí a pouco, depois que o galo cantou
Veio Ogum, veio Xangô, Ranca Toco e Oxalá
O feiticeiro que estava manifestado
Ficou muito admirado de ver tanta cortesia
Depois da cerimônia terminada
É que chegou meu protetor, que era o Caboclo Ventania
- Que me protege hoje em dia!
Toda essa gente que não crê na lei de Umbanda
Que ainda quer botar demanda, perde tempo na questão
Vive sempre com a vida atrapalhada
Está sempre castigado sem saber qual a razão
Antigamente eu fui descrente, até zombava
Porque não acreditava, já sofri muito também
Porque o Caboclo, africano verdadeiro
Quando baixa no terreiro
Não faz graça pra ninguém
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