O Sino
Memorias de Um Caramujo
Lá lá de longe
Ouço bater
O velho sino
Me faz tremer
Dentro da cela
Vela a queimar
Brilho opaco
Negro luar
De trás da porta
Ouço chegar
Pesado passo
Bem devagar
Passa o tempo
Passa das seis
E o velho sino
Bate outra vez
Vento sinistro me esquece, me deixa dormir
Que ela me clama, me chama, mas não quero ir
Dona no porto dos mares do desconhecido
O meu barco já vem
Num salto um susto
Abro meus olhos
Estive longe
Preso em meus sonhos
Vejo a luz fraca
Da mesma vela
E a mesma porta
Da mesma cela
Minha lembrança
Já se perdeu
Mas o passado
Não me esqueceu
Dentro do peito
Toca outro sino
Que acorda um monstro
Que está dormindo
Entre as paredes da cela eu escuto gritar
Toda a cidade em fúria que vêm me buscar
Em minhas mãos o pecado
E meus olhos não esquecem aquela visão
Em meu pescoço
Tem um cordão
E a minha volta
Nenhum perdão
E num suspiro
O chão sumiu
Meu corpo fraco
Cai no vazio
Dona do porto, o meu corpo não é corpo mais
O mar não está mais revolto, eu posso ir em paz
Que entra a neblina eu já vejo
O meu barco parado na beira do cais
Frio é meu peito
Que não badala
E o velho sino
Nunca se cala
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